O fim

"De um lado as forças do governo, bem armadas, bem alimentadas, de outro, rebeldes também armados, é verdade, mas famintos e sem ânimo para resistir muito tempo. A luta inicial é intensa e, à noite, o tenente-coronel ordena a retirada, afinal, já contabilizara só no seu lado 30 mortos e 40 feridos. Novos ataques e recuos ocorreram nos dias seguintes." 
Dessa forma não alcançaremos o nosso objetivo, e é aqui que deixamos nossas últimas palavras, após inúmeras tentativas, um ano se passou,  sentindo que o fim está próximo. Maria Rosa morreu e só restam alguns poucos combatentes que estão sendo vencidos pela fome. Foi registrado pelo general que tudo está destruído, e que os poucos sobreviventes estão dispersos, e a missão do exército parece estar cumprida.
Em dezembro de 1915, os últimos vestígios de revoltosos foram devastado por tropas. Agosto de 1916, se tem a Guerra do Contestado como finalizada.
Não foi por falta de fé ou de resistência, a condição de miséria que sempre fomos submetidos, foi capaz de nos derrubar antes mesmo das tropas militares.
 Deixamos um agradecimento a todos aqueles que nos apoiaram, e principalmente ao fundador do movimento: José Maria.

Os conflitos não param

Atenção! 700 soldados estão sendo enviados a Taquaruçu, estão armados e acreditam que terão êxito, mal sabem que estamos em um local de difícil acesso, em Caraguatá. Maria Rosa, que está substituindo José Maria após a sua trágica morte, assume a liderança espiritual e militar de todos os revoltosos. Mais expedições estão sendo realizadas, escutamos rumores de que estão perto de Caraguatá, mas garantimos que sairão daqui fracassados. (Fevereiro de 1914)

Dito e feito! "Soldados fogem em pânico perseguidos pelos revoltosos" O fato repercute em todo o interior, estamos cada vez mais animados para acabar de vez com essa luta, mais pessoas com interesses afins estão chegando para nos apoiar. (Março de 1914)

Caraguatá, que antes vira as tropas do governo fugirem perseguidas por revoltosos, tem agora de ser abandonada às pressas pelos mesmos revoltosos devido a uma grande epidemia de tifo. Considerando, equivocadamente, dispersos os revoltosos, o governo dá a luta por encerrada. Localizados agora em Santa Maria e atacando as vilas próximas, cerca de 250 km² da região do Contestado está dominada. (Setembro de 1914)

Companheiros,
    Além de estarmos à margem da sociedade e sem a devida assistência do governo fomos abruptamente desrespeitados; despejados de nossas moradias e impossibilitados de trabalhar em prol de nosso sustento causando nos fome e desespero.
   O que será de nossos filhos,esposas, família? Se o governo nem ao menos teve a dignidade de nos tratar como seres humanos. Não vejo o porquê de sermos pacíficos, vamos lutar pelos nossos direitos! Seguindo estreitamente as pregações de José Maria. Se morrermos,morreremos com honra, pois estamos lutando pelo futuro de nossos irmãos e por um Brasil mais justo!

Iniciam-se os Conflitos!

 Combatentes sertanejos apelidados de pelados. Temos na verdade um sonho de voltar aos tempos em que a vida havia sido mais digna e generosa. Formamos tropas de elite nos redutos, inspirados nas histórias do rei Carlos Magno. Queremos viver numa terra santa onde “tudo é irmão e irmã” e sob o lema de que “quem tem moe, quem não tem moe também, ficando no fim todos iguais”.
      Conseguimos forças para uma resistência inédita na história, as tropas não foram capazes de acalmar os ânimos por aqui. Mostrando quão grande é a nossa fé não deixamos as tropas saírem da região com ar de vitória. 

       "A construção de uma estrada de ferro interligando os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul agravou o problema sociali instalado na região. Sob a liderança do empresário estadunidense Percival Farquhar, a Brazil Railway Company comprou uma extensa área para construção desta estrada, onde diversas famílias já estavam instaladas. Após viabilizar o processo de desocupação das terras, a companhia atraiu a mão-de-obra de mais de 8 mil operários que participaram da gigantesca obra.         Depois de realizar a construção, a Brazil Railway adquiriu uma outra área com mais de 180 mil hectares onde realizaria exploração madeireira. Utilizando um moderno maquinário para a execução desse novo empreendimento, a empresa estrangeira precisou de um contingente mínimo de mão-de-obra, o que acabou forçando a expulsão de outra leva de pequenos agricultores que também estavam fixados naquela região."
        Desempregados e desapropriados, encontramos esperanças em José Maria, seja ele um representante de Deus ou não, é a única salvação para nós que estamos desesperados. 

Opressão

Nós camponeses não estamos propondo uma simples revolta de fanáticos. Somos sertanejos explorados pelos latifundiários, expulsos de nossas terras pelas companhias estrangeiras, as quais o governo cedeu grandes extensões de terra. Para a Brazil Railway, responsável pela implantação da via ferroviária para unir o Rio Grande a São Paulo, o governou concedeu cerca de mil metros de terras, uma em cada margem da estrada de ferro, que agora são obrigatoriamente povoadas por estrangeiros. E o que esse povo mais quer é tirar proveito da riqueza da floresta nativa. As empresas usam os imigrantes nos trabalhos com a estrada de ferro e na exploração de madeira.

E nós, vivemos com a miséria, a ignorância e as injustiças sociais. E vamos reagir a essa opressão.

Além disso, soubemos que os coronéis estão preocupados com a liderança de José Maria, por ele está cercado de nós, camponeses, que o apoiamos. E por isso, o acusam de ser um inimigo da República, que quer desestruturar o governo e a ordem da região. Bem, isso não é verdade.Apenas queremos a criação de um mundo novo, regido pelas leis de Deus, onde todos viverão em paz, com prosperidade, justiça e terras para trabalhar.